Um acidente envolvendo choque elétrico causou a morte de um funcionário de um restaurante em Trancoso (BA) no mês de dezembro. Vamos falar aqui sobre a importância da prevenção e os cuidados que devem ser tomados para evitar acidentes do tipo. 

Todo e qualquer empreendimento – quer seja comercial, industrial ou residencial – precisa garantir a segurança das pessoas contra choques elétricos. A ABNT NBR 5410, a chamada norma-mãe das instalações elétricas em Baixa Tensão no Brasil, traz um capítulo dedicado à “Proteção para garantir segurança”. O texto envolve a proteção contra efeitos térmicos que têm como causa o uso da eletricidade, a proteção contra queimaduras, a proteção contra incêndios e a proteção contra choques. 

O choque elétrico tem uma particularidade interessante, pois não causa os mesmos efeitos em suas vítimas: sua intensidade e grau de fatalidade dependem de condições orgânicas, como:

– A resistência da pele; 

– o vestuário da vítima;

– a utilização de calçados isolantes; 

– condições ambientais, como a presença de umidade sobre um piso, por exemplo. 

Por essas razões, a NBR 5410 estabelece que os profissionais que se dedicam a projetar as instalações elétricas empreguem especial atenção às áreas molhadas – banheiros, copas, cozinhas e áreas de serviço – ou áreas externas.

Diante do exposto, fica clara a importância de instalações elétricas seguras em restaurantes. Suas cozinhas possuem uma quantidade considerável de equipamentos elétricos, em um ambiente lavável, próximos a pias ou torneiras, e manuseados por pessoas que estão constantemente com suas mãos úmidas. Os restaurantes apresentam usuários muito suscetíveis às piores consequências no caso de pessoas expostas a choques elétricos.

Disjuntor não garante proteção às pessoas: o que protege?

Há uma falsa impressão geral de que o disjuntor (a famosa “chave” instalada no quadro elétrico) devidamente dimensionado e em boas condições protege as pessoas contra choques elétricos. Isso não condiz com a realidade. O disjuntor não é um equipamento destinado a proteger pessoas, e sim proteger as instalações e os equipamentos contra os efeitos térmicos causados por sobrecargas ou curtos-circuitos. 

A corrente capaz de sensibilizar (desarmar) um disjuntor pode ser da ordem de dezenas ou até mesmo centenas de ampères, ao passo que a corrente capaz de matar uma pessoa não passa de alguns centésimos de ampères – 0,065 ampères aplicados nas duas mãos de uma pessoa já são suficientes para provocar a sua morte. Portanto, algumas outras soluções precisam ser devidamente providenciadas.

  • Em primeiro lugar, uma boa solução de aterramento, que atenda no mínimo às prescrições da NBR 5410 e da NBR 5419, que versa especificamente sobre o tema. 
  • Utilizar o Interruptor Diferencial-Residual, um equipamento adicional ao disjuntor, conhecido no mercado como DR. O DR possui tanto a função de proteção patrimonial (evitando possíveis incêndios) quanto a proteção contra choques elétricos. É um equipamento capaz de detectar pequenas fugas de corrente, responsáveis pelos choques elétricos quando encostamos na carcaça metálica de um eletrodoméstico, por exemplo. Assim que o DR “enxerga” a presença de uma corrente de fuga em níveis perigosos, ele automaticamente interrompe o fornecimento de energia, abrindo tal qual um disjuntor, só que muito mais rapidamente, preservando a integridade das pessoas.    

Adotando ao menos essas duas medidas muito provavelmente o acidente não teria o desfecho trágico que observamos. Ambas constam nos requisitos mínimos exigíveis pelas normas de instalações elétricas, ou seja, são de adoção obrigatória segundo as leis brasileiras há décadas. Essa obrigatoriedade de adoção dos requisitos expostos surge no texto de Normas Regulamentadoras editadas pelo Ministério do Trabalho (em especial a NR-10 que trata dos serviços em eletricidade) ou do Código de Defesa do Consumidor, aplicável a toda e qualquer relação de consumo, tal como a oferecida pela construção civil.

Choques não podem ser considerados normais

Baseados nos relatos da imprensa, observamos que os choques no restaurante da pousada citada eram corriqueiros – lembrando que a ocorrência está sob investigação policial e que diversos outros elementos ainda poderão surgir. A partir da situação relatada, é interessante pensarmos na situação: quem nunca tomou um choque elétrico no chuveiro da casa da avó? Ou na geladeira da casa de campo? Naquele freezer do bar? Ou em uma máquina de lavar que repousa tranquilamente na área de serviço? A verdade é que essas ocorrências não podem ser consideradas normais, quase uma brincadeira – porque não são. Na verdade, são potencialmente fatais.

Tal qual as instalações elétricas, os equipamentos também possuem normas que estabelecem requisitos mínimos para a sua fabricação. Alguns, quando possível, possuem invólucros que oferecem dupla isolação. Outros, envoltos em carcaças metálicas, possuem a correta interligação entre o pino terra da tomada – o famigerado terceiro pino. Isso permite, em caso de sinistro, a devida atuação dos dispositivos de proteção (disjuntor e DR) dimensionados por um engenheiro eletricista e apresentados sob a forma de um projeto para o empreendimento.

Portanto, os padrões exigíveis estão presentes nas normas brasileiras ou internacionais que os produtos oferecidos ao consumidor devem seguir, segundo o Código de Defesa do Consumidor; e nas instalações elétricas que receberão esses equipamentos, projetadas sob a criteriosa responsabilidade de um engenheiro eletricista devidamente habilitado. 

Quanto aos produtos, é preciso ficar atento. Os consumidores ou até mesmo empreendedores que estão de olho nos critérios mínimos de segurança que seus empreendimentos precisam seguir podem buscar informações junto aos fabricantes. Nos catálogos ou propagandas dos equipamentos é possível observar quando alguns requisitos compulsórios de atendimento às normas, estabelecidos pelo INMETRO, são cumpridos por determinada marca. Para isso, existem artifícios como a etiquetagem de alguns equipamentos ou sistemas. 

Já em relação às instalações elétricas, consumidores e empreendedores devem buscar por um engenheiro eletricista, verificando se seu registro junto ao conselho de classe está ativo (através de uma rápida consulta na página do Crea-MG, por exemplo). 

Mais tecnologia, mais eletricidade

A tecnologia evolui a uma velocidade absurda, e seu desenvolvimento está intimamente relacionado à crescente demanda pelo uso da eletricidade. É interessante notar que atrás de quase tudo que utilizamos no nosso dia a dia está conectado a uma tomada, tanto em casa quanto no trabalho. Tal fato deveria fazer com que as pessoas se conscientizassem sobre a importância de instalações elétricas seguras e confiáveis.

Somente um bom projeto, elaborado por profissional habilitado, é capaz de garantir os requisitos mínimos de segurança e desempenho estabelecidos no gigantesco rol de normas brasileiras e internacionais. Uma boa medida a ser adotada em relação à contratação desse profissional é a busca por referências de seus trabalhos. 

A Abrasip-MG torna-se uma dessas referências a partir do momento que congrega diversas empresas do setor de projetos, de forma a promover a troca de experiências entre suas associadas, além da constante atualização profissional através de seminários, palestras, workshops, interação com fornecedores do setor e participação efetiva nos mais variados fóruns de discussões sobre os importantes temas relacionados à sua atuação.