Os cursos de engenharia de Minas Gerais têm registrado altas taxas de abandono. Chama a atenção o volume de estudantes matriculados que deixam seus cursos para trás. Para se ter uma ideia, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o Inep, em 2017, mais de 35 mil estudantes iniciaram uma das faculdades de engenharia do Estado. Mas, no mesmo ano, cerca de 12 mil alunos decidiram trancar sua matrícula.
Segundo Cristina Luiza Bráulio, gestora da Comissão Acadêmica da Abrasip-MG, a redução no número de engenheiros formados a cada ano preocupa o mercado. “Diante desse quadro, fica o questionamento: será que as escolas de ensino superior estão alinhadas com as expectativas do segmento e dos próprios estudantes? Por mais de 40 anos atuei ao mesmo tempo em empresas do setor privado e na academia. Os profissionais que seguem a carreira acadêmica, muitas vezes são forçados a se dedicar quase que exclusivamente aos estudos e à obtenção de títulos, o que lhes deixam pouco tempo para o aprendizado prático do ofício”, afirma.
Para Cristina, é difícil equilibrar as duas carreiras e por isso faltam professores atuantes no mercado. “A verdade é que a falta de professores que também trabalhem na área prejudica a formação dos alunos, pois resulta muitas vezes em um abismo entre a teoria explicada em sala de aula e a prática que se desenvolve do lado de fora das escolas. O crescente distanciamento entre educadores e universitários é um fato. Muitos professores, por razões técnicas ou financeiras, não se sentem estimulados e não se interessam pelos resultados dos trabalhos desenvolvidos pela instituição. Nesse contexto, eles deixam de cumprir sua responsabilidade educacional. Uma consequência perversa desse panorama é a existência de inúmeras oportunidades em empresas de engenharia, que estão vagas justamente por não encontrarem profissionais capacitados”, explica.
Segundo Cristina, o corpo docente desmotivado e com pouco conhecimento prático comprometem o futuro dos nossos profissionais. “A academia, que nos dias de hoje luta pela sobrevivência econômica, deixa de buscar parcerias e propor atividades que sejam enriquecedoras para seus alunos. Associações ligadas a área da engenharia, como a ABRASIP-MG, podem atuar como vias complementares na medida em que oferecem cursos, treinamentos e seminários. É preciso incrementar a sinergia entre as universidades e o mundo dos negócios, abrindo as portas para as parcerias”, destaca.
A associada da Abrasip-MG finaliza: “Acredito que as instituições de ensino do futuro sejam aquelas completamente alinhadas às tendências de mercado, que incentivem a criatividade, o empreendedorismo e proporcionem oportunidades que vão além do pensamento técnico. Os professores devem caminhar ao encontro dos alunos, acompanhar as transformações tecnológicas e as mudanças que elas provocam no comportamento e na formas de se comunicar com eles. Só assim será possível cativá-los, oferecendo uma educação sólida, que contemple uma base conceitual associada à habilidades de contextualização próprias do pensamento criativo e indispensáveis à boa formação dos engenheiros”.